Tudo começou nas noites de baralho em Itajaí, quando eu tinha apenas 5 anos. Meu avô paterno, Valentin Pandini, vinha de Blumenau para longas visitas, e o ritual era sempre o mesmo: ele e minha mãe Loni jogavam cartas regadas a vinho tinto.
Naquela época, ainda bebíamos vinhos de mesa feitos com uvas comuns - as uvas viníferas ainda não existiam comercialmente no Brasil. Mas para o vô Valentin, aquilo era sagrado. Ele tomava o vinho em longos goles, como quem mata a sede, sempre lembrando do meu bisavô que veio da Itália: "Vinho é alimento", dizia com orgulho.
Foi numa dessas noites que, aos 5 anos, esperei minha mãe sair para cuidar das minhas irmãs e meu avô acender o cachimbo. Então ataquei o copo quase cheio e bebi igual ao vô Valentin - em longos goles e com orgulho.
Quando minha mãe percebeu, ficou desesperada. Mas o vô Valentin voltou sorrindo com seu cachimbo e disse: "Calma, o Leopoldinho vai dormir melhor hoje... ele não incomoda mais!"
Essa memória permanece cristalina até hoje.
Aos 12 anos, ganhei minha primeira lição prática. Meu avô plantou duas videiras de uva branca em nossa casa, construindo uma estrutura com postes e arame. Todo ano ele vinha de Blumenau para fazer a poda.
Quando completei 14 anos, o vô adoeceu e me ligou: "Você vai ter que podar as videiras, eu não posso ir." Fiz a poda com receio e, pela inexperiência, a produção foi menor naquele ano. Mas essas lembranças viriam a me guiar no futuro.
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Entre as páginas da nossa história e as imagens acima, há um espaço que conecta o passado ao presente.
O amor pelo clima frio e o sonho de ter um terreno com araucárias me levaram até Bocaina do Sul, na serra catarinense. Em 2022, adquirimos uma propriedade onde iniciamos a limpeza da fazenda e abertura de estradas, pois era uma área abandonada há aproximadamente 20 anos.
Identificamos que, pela altitude privilegiada de 1.100 a 1.300 metros, com o mesmo solo da região de São Joaquim - essencialmente pedras de basalto - teríamos a possibilidade de plantio de videiras. Foi lá que nasceu oficialmente a Villaggio Pandini.
Importamos da Itália as primeiras mudas em 2022, mas o primeiro ano foi de muito aprendizado e dificuldades. Tivemos vários granizos que nos fizeram perder quase todas as mudas. Cada desafio, porém, nos ensinou algo novo.
Replantamos então em 2023, estabelecendo desde o início o protocolo no nosso vinhedo de tratamento 100% orgânico nas vinhas. Sempre fui contra o uso de produtos químicos, e essa filosofia se tornou o coração da nossa produção.
Durante um curso de sommelier, assisti a uma videoaula sobre vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos, ministrada pela enóloga Graci Menezes (Vinha Unna). Degustamos um espumante natural delicioso, completamente diferente de tudo que eu havia experimentado.
Foi meu primeiro contato com o vinho natural - sem conservantes, sem produtos químicos. Era isso que eu queria produzir.
Hoje, nossa propriedade em Bocaina do Sul representa mais que um vinhedo: é o lar de uma filosofia que une tradição familiar, inovação sustentável e respeito pela natureza.
